10 dezembro 2025

A GREVE


 

Eis que o dia se aproxima.

Um dia que será lembrado, sem sabermos se será da melhor forma.

E, por falar em lembrança, aqui recordamos o ano de 1918, em Portugal, 12 de Novembro, o início da greve, segundo o relato de José Pacheco Pereira, na sua obra de 1971, “As Lutas Operárias contra a Carestia de Vida em Portugal: A Greve Geral de Novembro de 1918”: 

Às 6 horas da manhã do dia 12 de Novembro de 1918, Lisboa acordou em greve geral. Os operários das fábricas de gás, das companhias de electricidade, dos transportes públicos, das padarias, paralisaram completamente. Não havia luz, não havia pão, não havia carros. A cidade estava às escuras e silenciosa. Só se ouviam os passos dos piquetes operários que percorriam as ruas obrigando ao fecho dos poucos estabelecimentos que ainda tentavam abrir.” 

Um dia de GREVE é sempre um dia de sacrifício do trabalhador. Perde o seu salário, arrisca a sua posição para defender os seus direitos. A sua vida e a dos seus. Na luta diária, em que a exploração continua, diz a burguesia que ele já “não existe”. Passaram a chamar-lhe “colaborador”, o seu patrão deixou de o ser, agora é “empreendedor”, a terminologia ideal para pintar a exploração de qualquer cor à vossa disposição, desde que sirva para mascarar a realidade. 

Mudou muito, desde o ano 1918. Mudou assim tanto, em mais de cem anos? 

Mudaria talvez mais a vontade que os tempos, acicatada por algumas benesses  concedidas que poderiam ter vergado a tal “vontade” de lutar. Todavia, em tempos de servidão, o que fica é a dependência, a reles submissão e a adesão ao discurso burguês que é sempre capaz de dar a volta completa, se necessário for, a sedução permanente.

Deste lado, há luta? 

O sim e o não parecem misturar-se no ar, há sempre a Poesia e as canções para nos acordar, um chamamento, “Viemos (ou vivemos?) com o peso do passado e da semente / esperar tantos anos torna tudo mais urgente”, é o Sérgio a gritar LIBERDADE. O não vagueia na praça e tenta convencer-nos (ou converter-nos) que é preciso mais “competitividade” e mais “produtividade” para poder distribuir a riqueza, conversa espúria, mas quem raio é que produz a riqueza? E volta a canção, “Senhora de preto / diga o que lhe dói...”, de novo o Sérgio a perguntar se “pode alguém ser quem não é”. Pode?

 Amanhã, Lisboa e o país acordarão com uma GREVE GERAL. 

Tudo controlado, as centrais sindicais solicitaram ao Poder a marcação do dia 11 e o Governo irá impor “serviços mínimos” e requisição disto e daquilo, para minimizar os efeitos da GREVE, porque não sei que mais, as pessoas têm filhos e netos (e, já agora, pais, tios e avós e primos, claro) que não podem ser “prejudicados” pela tal coisa da GREVE. Que tempos idiotas vivemos, quanta hipocrisia, quanta falsidade, quanta mentira. Quanta propaganda. Quando um dia acordarem e a GREVE GERAL vier para a rua, sem pedir licença, colocando o Poder em tal risco que nem sabe bem se deve “oferecer” um ordenado mínimo de mil e seiscentos, ou um médio de três mil. Quando uma ou outra parvoíce qualquer vinda da boca seca de qualquer montenegro, a gente irá dizer, com o Chico, “Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia / Eu pergunto a você / Onde vai se esconder / Da enorme euforia...”, e lá estão as canções, sem elas não se fazem revoluções, rima e não é por acaso.

 Não há memória de tanta lengalenga, tanta força bruta no decreto e no papel contra quem trabalha, na “melhor economia da europa” (que raio será isso?). Quer o Poder convencer alguém no seu perfeito juízo que é preciso “ajustar” o que chamam de “pacote laboral”, para ter melhores salários e melhores pensões? Já agora, existe um “pacote empresarial”? 

Uma interpretação imediatista, poderá dar uma explicação idiota: é preciso despedir mais e melhor para reduzir o número de “colaboradores” e assim ter mais para “distribuir”. Outra (mais realista) será “reduzir” (reduzir bastante) os “Mandadores de alta finança”, nomeados pelo Zeca, nos “Índios da Meia Praia” e que, na opinião dele (que decerto subscrevemos), “...fazem tudo andar p'ra trás / dizem que o mundo só anda / tendo à frente um capataz

Muita letra sobrará, muita luta faltará, outra vez a rima a puxar-nos para a realidade. Volto ao Chico que nos diz “Você que inventou esse estado / E inventou de inventar / Toda a escuridão...” para avisar que há quem queira abrir as portas e deixar entrar a luz que falta. 

E dizer, com alguma segurança: 

Amanhã vai ser outro dia

Amanhã vai ser outro dia

Amanhã vai ser outro dia

                                            E QUE VIVA A GREVE GERAL!

 

  


24 novembro 2025

 CHOVE EM LISBOA [vais para a cama descansado?]


 

Um jornalista anda de carro pelas ruas de Lisboa, no dia 11 de Novembro de 1975. Chove e ele observa a estranha movimentação nas ruas enquanto ouve notícias pelo rádio. Em flashbacks, são lembrados os 19 meses do processo revolucionário (o sempre assumido PREC), como foi tramado o golpe pelas forças reaccionárias e todas as sabotagens e boicotes que geraram descontentamento e mobilizaram alguns sectores das Forças Armadas contra a Revolução. Qualquer semelhança entre o relato adaptado de uma crónica da época e o Chile de 73 pode ser uma pura coincidência, ou uma lembrança de que tudo pode correr mal, quando as circunstâncias se aproximam.  

 

País Portugal, 1975. Vivemos momentos dramáticos desde o passado mês de Março onde, a pretexto da aproximação perigosa da “reacção” (termo frequentemente utilizado para apelidar as forças contrárias à evolução). O correr das debulhadoras da reforma agrária, nas unidades colectivas de produção, criavam a riqueza necessária, sem capatazes, nem patrões, uma linda imagem tornada real, incómoda e ostensiva para a burguesia, que ousadia, quando os trabalhadores rurais organizados tomaram a seu cargo a gestão e o trabalho das terras grandes, naquele Alentejo perdido à mercê dos latifundiários parasitas. Pelo Algarve nasciam “índios” que moravam na Meia Praia, mesmo ali ao pé de Lagos, onde o Zeca haveria de fazer a tal cantiga “da melhor que sei e faço” e que convocava os que ali viriam morar a não trazer mesa nem cama”, porque Com sete palmos de terra se constrói uma cabana”. Com os operários a tomarem conta da produção, eram fábricas em auto-gestão generalizada, um atentado ao direito burguês e à “normalidade do estado democrático”. Com as nacionalizações a desafiarem o poder da banca e ao potentado económico-financeiro que, segundo os burocratas, é necessário ao equilíbrio social, sempre fora assim, porquê mudar agora? Que ousadia.

 

No Chile decapitaram corpos inocentes, em Portugal, decapitou-se uma Revolução. Para lembrar que, depois do 25 de Novembro, fizeram regressar os senhores do dinheiro – um convite dos bons sociais-democratas - um ímpeto paternalista sobrepunha-se e dizia que o Partido Comunista Português era necessário para a consolidação da democracia. E, em vez de julgarem e condenarem os que incendiaram as sedes das Esquerdas, apelaram á “reconciliação” e deixaram florescer os fascistas envergonhados que, na sua imensa “bondade” se iam convertendo a “democratassemelhantes em tudo aos que os reabilitaram. Decerto muito poucos imaginariam queapenas um ano depois, viria o infame Barreto, um socialistaconvicto destruir por completo a Reforma Agrária, devolvendo aos agrários tudo o que os trabalhadores produziram e melhoram. A vitória dos que nada fazem, nunca fizeram, era servida de bandeja por aqueles que apelavam à moderação, achando-se alguns deles como pais e mães da democracia. Estranho desígnio. 

 

Em Lisboa chovia a potes, no resto do País também, ao que consta da meteorologia oficial. O sol da Revolução ocultado por óculos escuros e patilhas de comandante, eis que volta a paz aos quartéis, onde havia jurado bandeira de punho erguido, eu estava entre eles e não imaginava que tal (entre outras coisas) me haveria de custar a expulsão do exército português, após ter tido o privilégio de partilhar tanta coisa com o “nosso capitão” Salgueiro Maia, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Quanta ingenuidade.

 

O Portugal que estremecia, numa inventada “Comuna de Lisboa”, olhava para trás e nada via a não ser os destroços do que se havia construído para um presente solidário e um futuro prometido (apenas melhor?). Quanta maldade.

Nesse ano que começou bem e acabou muito mal, conhecemos "Tanto Mar", onde o Chico diz que queria mesmo “estar na festa, pá / Com a tua gente / E colher pessoalmente / Uma flor do teu jardim.”. Três anos depois, ele muda a letra, constatando, “Já murcharam tua festa, pá / mas, certamente / esqueceram uma semente / nalgum canto de jardim”. Na verdade, se existe ainda uma semente, deve ter sido bem capturada e impedida de florescer. Curioso, esta versão foi gravada ao mesmo tempo com um tema onde se pode ler, “Talvez o mundo não seja pequeno (cálice) / Nem seja a vida um fato consumado (cálice, cálice)”. 

 

Viria pois a europa connosco, com todas as promessas de igualdade e democracia social, de distribuição de riqueza e “convergência”. Quanta mentira. 

Chovia em Lisboa e nós fardados na rua a manifestar de punho erguido o que havíamos jurado na parada"... ao serviço da classe operária, dos camponeses e do povo trabalhador, aceitar a disciplina revolucionária, lutar contra o fascismo e defender a Revolução Socialista”. Quanta ingenuidade, outra vez.

Regressamos ao quartel e esperava-nos a lei e o regulamento de disciplina militar do recém antigamente, o cutelo cruel do restaurado estado opressivo, bem pintado de cores “democráticas”, ou sociais-democratas enganadoras e falaciosas. Quanto respeitinho, de novo.

 

Viria mais tarde a denúncia, feita por um “Ser Solidário”, lá por meados dos anos oitenta, convidando-nos de novo a uma revolta, que já nascia na melancolia e nos convocava de novo. Primeiro, o chamamento à nova realidade, “A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas / Sempre atentas / E levas pela tromba se não te pões a pau / Num encontrão imediato do 3º grau.” Depois, a constatação da ordem cavaquista implantada no alvos dos anos oitenta (vejam a semelhança, primeiro para as Finanças e logo a seguir para “chefe de governo”, não vos lembra nada?), “Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva / E salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para / aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?” E, para terminar, a constatação actualíssima: “Entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes / a pensar em tudo neste mesmo instante / Enquanto tu adormeces a não pensar em nada”. Recordo aqui, ajudado pelo Manuel Loff, o que dizia o Cavaco, recém investido como novo salazar, a sua mulher, a propósito dos anos da Revolução, “Esta gente não está boa da cabeça, parece um país de loucos”. Dos autênticos “Loucos de Lisboa”, falaria em 1994, o João Monge: “São os loucos de Lisboa / Que nos fazem duvidar / Que a Terra gira ao contrário / E os rios nascem no mar”. Quanto vale o delírio de uma realidade assustadora.

 

Por aqui vamos então, com os tristes direitistas, eivados de Poder e acarinhados pela comunicação social burguesa, a querer festejar o que pensam (será mesmo que pensam?) ser a sua pequena vitória. No 25 do Novembro, outro tipo de loucura nada sadia, tomou conta da Revolução e tentou pintá-la de outra cor, tal como acontece com a “pintura” verde feita ao capitalismo. A social-democracia, sempre a trair os trabalhadores, tratou de virar a página, abrindo primeiro e escancarando depois, as portas aos fascismos emergentes, que hoje comandam por fora ou por dentro as políticas de miséria de um País perdido, no tempo e na memória. Quando hoje “Pergunto ao vento que passa / Notícias do meu país...”, recordo o ano de 1963 (era eu um jovem) quando Manuel Alegre escreveu aquele Poema que me traz "Uma lágrima no canto do olho"porque o associo à luta de Coimbra 69 e ao pontapé que demos no fascismo. Desgraçadamente calado pelo vento, este “nada me diz” de novo e faz da Trova, apenas a lembrança do Adriano que a imortalizou. E as notícias do meu País são hoje a imagem invertida da Revolução, em direitos vilipendiados, em ameaças à Liberdade, “cantando” sempre uma “democracia” pérfida e enganadora, num crescendo de pobreza e miséria, de propaganda e mentira, pejado de autênticos vampiros de fato e gravata que, tal como os pintava o Zeca, em  1963, “Vêm em bandos com pés veludo / Chupar o sangue fresco da manada” e que são, aos olhos de todos, “...os mordomos do universo todo / Senhores à força mandadores sem lei”, comendo sempre tudo e deixando algumas (cada vez menos) migalhas aos parvos que somos nós, embora a Ana nos lembre, "E parva eu não sou..."

 

Parvos ou não, os burocratas de Lisboa e de Bruxelas não sentem a chuva no pelo, porque têm pelo na venta, suficiente para ignorar o que se passa à sua volta. Sentados em cadeirões de pelo, instalados em poltronas ou viajando em jactos privados, não passam de charlatões. Assim os definia Sérgio Godinho, em 1971: “Entre a rua e o país / vai o passo de um anão / vai o rei que ninguém quis / vai o tiro dum canhão / e o trono é do charlatão”, enquanto denunciava: “No beco dos mal-fadados / os catraios passam fome / têm os dentes enterrados / no pão que ninguém mais come / os catraios passam fome”. Parece até que de 1971 a 2025 vai na verdade, “o passo de um anão”. Que triste fadário.

 

E Depois Do Adeus” que Abril nos trouxe, veio a estragação da Festa. Voltando à carga com o Chico, tratamos Novembro por você e dizemos com a ajuda dele, fechando a conversa: Apesar de você / Amanhã há de ser outro dia / Eu pergunto a você onde vai se esconder / Da enorme euforia / Como vai proibir / Quando o galo insistir / Em cantar / Água nova brotando / E a gente se amando sem parar”.

25 DE ABRIL, SEMPRE!


09 novembro 2025

 AS PORTAS DA GREVE

 

... Levanta-te meu povo, não é tarde

Agora é que o mar canta é que o sol arde

Pois quando o povo acorda é sempre cedo

O Trabalho”, José Carlos Ary dos Santos (1977)



Vinham do País para a Cidade, num dia de sol, de comboios, de autocarros, “...alguns por seu  próprio pé, um chegou de bicicleta/ Outro foi de marcha à ré”, quais índios de uma praia a metade, que a vida lhes tirou, ao contrário do tempo de uma Revolução que pouco mais de um ano durou e lhes tinha dado algo a que aspiravam. Quando, ao tempo, o Zeca cantava “a nobreza dos Índios da Meia Praia” talvez não imaginasse o cenário negro dos dias de chumbo que viriam e que obrigam os trabalhadores a sair à rua ocupada pelos burocratas da burguesia, ao serviço do Capital. Eis então que se fundem o “Capital” do predadores e a “Capital” ocupada, cumprindo o poema onde aparece a grande verdade sobre a propriedade subtraída, aí está então: “Pois é dele a sua história e/O povo saiu à rua”.

 

A palavra caiu na rua no exacto momento em que a mulher se preparava para declarar a sua intenção em ficar na rua para marcar o terreno que não tinha, a bem dizer, não tinha qualquer casa para viver, quanto mais terreno para criar a sua galinha, que o preço dos ovos está pela hora da morte, ocupava ela a rua como forma de fazer ver (a quem?) o seu direito a ela, de todos como ouvira dizer um dia e hoje, mais do que nunca, achou que seria a forma mais simples de cumprir esse direito. A ela se juntam cem mil, em ruas cheias de imaginação, como esta, a recordar o Grupo de Acção Cultural de 1975, orientando o sentido da Luta:

Até à vitória final

Lutaremos pela causa do povo

Opomos o trabalho ao capital

Até à Greve Geral

 

Sente-se uma alegria revolucionária na Cidade, algo que faz falta para acordar consciências e provocar os que pretendem paralisar a luta dos trabalhadores, cedendo-lhes aqui e ali as migalhas de uma má consciência. Acontece que o trabalhador, sistematicamente em construção, deu o salto necessário, que o Vinicius registou:

Foi dentro da compreensão

Desse instante solitário

Que, tal sua construção

Cresceu também o operário.”

 

Se o pacote laboral só interessa ao capital e queremos Greve Geral já, a comunicação social da burguesia oculta quase tudo. As notícias da rádio e televisão pública ficam-se por apontamentos como, "...pessoas de todas as idades desceram a Avenida da Liberdade para se juntarem nos Restauradores, onde várias figuras da CGTP discursaram.”, eram “...milhares de pessoas, vindas de todo o País”. Conscientemente ocultam, muitas vezes mentem descaradamente, parecem mais interessadas em acompanhar o futebol: na manhã deste dia de hoje, preferem as eleições do Benfica, o golo irregular do Sporting nos Açores e sei lá que mais no Porto. Da manifestação, zero, um escandaloso alheamento da realidade. O Candidato Seguro diz que o governo devia ouvir os trabalhadores, para evitar a greve do próximo 11 de Dezembro, uma provocação imensa à sua luta mostrando (finalmente) ao que vem, se necessário fora.

 

Num outro cenário, aquele em se prepara a Greve Geral, a mulher pergunta se será ouvida, os trabalhadores em comissão ou em sindicato querem saber se a greve é o “último recurso” ou se é aquele direito nobre a que têm direito. Estamos então aqui para afirmar a GREVE como um acto claro e directo de REVOLUÇÃO. Se assim o pensamos, assim o devemos levar à prática. Que se abram as portam da greve!


13 outubro 2025

 O SÍNDROME ALEXANDRA 

 

Das eleições acabadas do resultado previsto

Saiu o que tendes visto muitas obras embargadas

Mas não por vontade própria porque a luta continua

Pois é dele a sua história e o povo saiu à rua...

Os Índios da Meia Praia”, Zeca Afonso (1976)

 

O resultado, previsto ou não, das eleições acabadas, estará provavelmente à vista, mesmo que não esteja. Acontece quase sempre, no final do acto, dizer que “foi uma vitória da democracia”, que o “povo decidiu”, ou que “o voto é soberano”, asserções cujo objectivo comum é “sossegar o povo”, agora está tudo bem, votaste e pronto. Por mais bondade que exista, aquelas afirmações representam apenas a face negra da democracia burguesa e pouco (ou mesmo nada) têm a ver com os interesses do dito “povo”. 

Hoje poderá ser uma boa oportunidade para elaborar um pensamento diferente, entroncado na realidade da política portuguesa, na pobreza relativa de grande parte das candidaturas, na diferença entre as vários tipologias de eleições, na atitude dos votantes, na crítica às “coligações”, na influência crescente da propaganda em detrimento da verdade dos factos, enfim, na assumpção de um pensamento crítico que recuse de vez o institucionalismo enquanto solução redutora e ardilosa da realidade.

É costume, no caso das autárquicas, argumentar que as mesmas nada têm a ver com outro tipo de actos eleitorais, como por exemplo, das legislativas. Que têm mais a ver com as pessoas “locais”, que os partidos têm importância relativa, em privilégio do “candidato”. Que os resultados não devem ser extrapolados ou projectados a nível nacional. Ou finalmente, que sim e que não, ao mesmo tempo, como ouvimos os diversos “protagonistas” e o respectivo séquito de “ajudantes” que, na dita comunicação social, fazem exercícios fantásticos de dizer, o mesmo tempo, a mesma coisa ou o seu contrário.

 

Vendo bem, quem são e a quem pertencem as “máquinas” que comandam as campanhas? De onde vem o apoio, o dinheiro, para montar as campanhas? Quem são as pessoas candidatas e quem as escolhe? Se pensarmos um pouco, facilmente concluiremos que a origem do “mal” das campanhas está mesmo na estrutura burocrática e centralizada da organização dos partidos burgueses e, se assim os designamos, é tão só porque é a única possível, atentando à institucionalização sistemática que ostentam e como consubstanciam a tomada de poder do estado que lhes está “associado”. Como toda a “ocupação”, o caso português transforma os dois partidos do “centrão”, PS e PSD, em donos à vez do aparelho de estado. Muito embora a extrema-direita racista e xenófoba, supremacista e mesmo fascista tenha crescido com base na insatisfação popular perante o tremendo falhanço neoliberal da sua actuação, conjunta ou separada, o certo é que o último resultado de ontem, vem dar razão a uma tese de difícil rejeição. 

 

As “coligações” entre partidos e entre estes e outros movimento de cidadãos ficam-se apenas por acordos “arranjados” entre as lideranças partidárias. São o espelho da organização partidária e da sua interpretação da democracia burguesa, uns lugares para ti, o “rosto” do arranjo para mim, porque há que ter em linha de conta o valor do meu partido em relação ao teu. Mesmo com zanga provável entre “comadres”, algumas (coligações) avançam completamente afastadas da realidade e do sentir dos cidadãos, que as vêm exactamente como “arranjos” e nada mais. O caso de “coligação de esquerdas” em Lisboa é um triste exemplo de como “não se deve fazer”: tudo programado de cima com a indicação da personalidade que a chefia, pertencente ao PS, claro, mesmo sabendo que a pessoa em questão estaria, com todo o respeito, desenquadrada da questão autárquica. Depois de estabelecida, o grupo estenderia a mão ao representante da CDU, oferecendo-lhe a vice-presidência. Um reconhecimento feito ao melhor autarca de Lisboa, na opinião da grande maioria, bastava ouvi-lo discernir e falar sobe todas as matéria relacionadas com a chamada “gestão autárquica”. Dada a recusa, natural e legítima, de João, a trupe de comentadeiros, encartados ou não, da direita e de muitos da esquerda, viria desancar o “melhor candidato”, como o verdadeiro responsável pela quebra da “unidade da esquerda” e, espante-se, como a melhor “passadeira” para a vitória de Moedas. A muito poucos interessa que os dois “centrões” (PS e PSD) estiveram quase sempre de acordo, tendo o PS caucionando a maioria das posições de Moedas, chamando por isso a si a responsabilidade pelo afundamento da Cidade, em praticamente todos os desmandos de uma governação perversa. Neste particular das designadas coligações, a única coisa que se poderia apontar à CDU é mesmo não ter sido o grande impulso de uma verdadeira coligação alargada da Esquerda, mesmo atendendo à relativa pobreza e, nalguns casos, a uma perfeita irrelevância dos eventuais protagonistas. No final, a noite de ontem, Alexandra foi mesmo o espelho da derrota, tendo a seu lado os rostos acabrunhados de uma Mariana e de um Rui (já para não falar de mais), perfeitamente rendidos a uma condição de dependência e de subalternidade evidentes. 

 

Se existir uma metáfora para campanhas que, apesar de terem elevada visibilidade mediática e protagonismo centralizado numa figura carismática, não conseguem traduzir essa exposição em resultados eleitorais concretos, temos definido o “síndrome Alexandra”. Como uma “verdadeira democrata”, Alexandra assumiu inteiramente a responsabilidade pela derrota, prometeu fazer uma oposição "rigorosa, firme e prepositiva". É isso que se espera, excluindo (ou incluindo?) os parabéns à vitória de Moedas.

 

O exemplo de Alexandra serve em toda a linha para a derrota do Partido, dito “Socialista”, a nível nacional. Poderá eventualmente cantar as vitórias de Bragança, Coimbra, Faro e Viseu, mas os militantes verdadeiramente socialistas nunca irão perdoar ao desastrado líder que “escolheram”, nem ao facto evidente de um campanha falhada e derrotada. Ao falar, como sempre, sem qualquer sentido do ridículo, Carneiro disse que “...o partido voltou como grande alternativa política ao governo e mostrou vitalidade.” Fantástico.

Poderá ter havido um excesso de personalização? Terá havido uma desconexão entre os temas da campanha e as preocupações reais dos lisboetas, seja lá o que isso for? Ao contrário de João, Alexandra nunca foi capaz de enfrentar Moedas, em apontar os podres da sua gestão, porque vendo bem, eles poderão ser os mesmos, e, segundo o que se costuma dizer, as pessoas preferem o original à cópia.

O síndrome Alexandra é um bom espelho à frente do qual o PS pode puxar as orelhas até ao chão. Mas obviamente que isso não vai acontecer.


09 setembro 2025

ALEXANDRA E A “BELEZA” DE MATAR A ESQUERDA

 

Alexandra falou. Diz, “não sou técnica..., não sei dizer”, ao ser confrontada com a externalização da manutenção da Carris iniciada com o PS. Pelos vistos, também não sabe que a Carris está em outsourcing há quatorze anos, ou seja, a tal externalização, que leva a que a Empresa contrate serviços no exterior, desprezando o saber e o conhecimento dos seus trabalhadores. Também não saberá (?) que o actual Presidente da Câmara de Lisboa retirou quatro milhões de euros à empresa municipal para entregar o mesmo valor à Web Summit, com o apoio do PS. E, apenas como complemento de um mais que provável “não sabe” da “aliança”, na prática, à gestão da Direita PSD/CDS-PP, nomeadamente na descapitalização da Carris.

Alexandra, creio eu, até sabe de tudo aquilo, não pretendo passar um atestado de menoridade a uma pessoa com a sua (reconhecida) inteligência. Todavia, as expressões que utilizou numa entrevista à Agência Lusa, no passado 5 de Setembro, a propósito do trágico acidente do Elevador da Glória, são de uma confessa vulgaridade e mesmo mediocridade, exactamente iguais às que qualquer governo centrista ou partido do Poder daria. Senão vejamos, “Lisboa precisa de respostas...”, “honrar as vítimas é obter esclarecimentos”, “...é importante apurar responsabilidades técnicas e políticas”. É a tal situação, falar e não dizer nada de substantivo. Na verdade, os “responsáveis institucionais” falam a (mesma) linguagem cifrada do vazio e da hipocrisia.

Alexandra também não quer a demissão do Presidente actual, porque lá está, não o pode fazer, apesar de ser acusada de o querer fazer, com o apoio dos “sicários” do PS (nomeados e tudo). Acreditando na significância do termo, o sicário é um indivíduo que mata em troca de dinheiro, um assassino contratado, um homicida, voluntário ou involuntário, derivando o vocábulo da palavra latina “sica”, uma adaga, ou um pequeno punhal curvo. Entretanto, o acusador diz simplesmente que não há nenhum erro que lhe possa ser imputado e pavoneia-se nas televisões, quando na verdade já devia estar em prisão preventiva (há que esteja nessa condição por muito menos...). Mas, entretanto, acontece que, em nota datada do dia de hoje, António Costa, Alberto Martins, Augusto Santos Silva, Eduardo Ferro Rodrigues, Guilherme Oliveira Martins, Luís Capoulas Santos, Nuno Severiano Teixeira, Fernando Medina e Francisco Assis, acusam Moedas de “falsidades “e afirmam claramente que o dito sujeito não tem "idoneidade" ou "dignidade" para ocupar as suas funções.

Em que ficamos, então?

Alexandra, acontece que és a “cabeça” de uma coligação (PS/Livre/Bloco de Esquerda) que se pretende de Esquerda, se anuncia como tal, para destronar a Direita do Poder. A questão que se coloca é se isto é ser de Esquerda, enquanto acusam “outros” de, ao não se juntarem a este grupo, contribuem para a divisão (da Esquerda). 

Matar a Esquerda parece ser o desígnio deste grupo, atolado em contradições. O centrismo acéfalo e hipócrita do Partido (dito) Socialista conta e canta mais alto que a dignidade e a coerência.

Pode Alexandra estar convencida que é de Esquerda. 

A realidade é que parece ser mais uma a querer matá-la...


13 agosto 2025

 FOGO ASSASSINA


 
Nesta malfadada época, todos os anos a mesma cena, incêndios por todo o lado, falhas (sempre as mesmas), inoperância e incompetência generalizadas dos (i)responsáveis institucionais, juntam-se ao lamento e desespero dos que pouco têm e com nada ficam.

Não deixa de ser estranho que também (como nos outros anos) umas largas dezenas (centenas serão?) de "meliantes" se deixem tranquilamente "apanhar", em flagrante delito, a atear fogos por aí, ainda por cima com a indicação das autoridades policiais de que estão a "especializar-se" na arte do fogo. Alguém de boa fé acredita nisto, ou, no mínimo, não desconfia? Claro que, neste e noutros casos, é  tremendamente mais fácil culpabilizar individualmente, do que procurar as verdadeiras causas da(s) tragédia(s).

A tremenda incompetência não  é (como em casos semelhantes) casual. Os responsáveis partidários do centrão bem deveriam responder pela sua irresponsabilidade pela ausência de um planeamento florestal que favoreça os cidadãos, em vez de servir os interesses do poderoso e lucrativo negócio da pasta-papel. Contudo, é este panorama do país eucaliptal que temos, perfeitamente submetido a interesses privados e a tragédias constantes.

Hoje, com este governo miserável entregue à extrema-direita, já nem merece ouvir declarações, é assim mesmo, altas temperaturas (parece que é a primeira vez...), os "rurais" que não limpam os terrenos (sempre a culpabilização individual), os aviões que foram comprados sem tanques, o helicóptero que avariou, enfim toda uma série de idiotices escusadas. 

O fogo é hoje um produto para espectáculo, como qualquer outro. As televisões cumprem o papel de fornecedor de entretenimento idiota e cúmplice da mais poderosa máquina de propaganda da manipulação grosseira e da mentira descarada. Impossível, por isso, perdoar à dita "televisão pública" o papel triste que faz para acompanhar a concorrência, na estupidez de uma informação comprometida com os interesses privados, não sendo capaz de um mínimo juízo crítico. 

 

Alguém já se terá lembrado de organizar um processo-crime contra os irresponsáveis, com um historial de crimes contra o cidadão e contra a natureza, com tantos anos? De levar a tribunal os verdadeiros criminosos pela degradação do País, pela incompetência no planeamento florestal? Presumo que, por exemplo, no âmbito de uma acção popular em larga escala (iniciativa cidadã?) se poderia enquadrar a verdadeira revolta contra a situação actual. Qualquer altura será boa para fazer isso, por exemplo, já. Uma forma inteligente de virar do avesso a culpabilização individual e enquadrá-la devidamente na assumpção política do sistema e regime capitalista, predador e infame.

O fogo que hoje assassina não foi "inventado" para isto. Os que promovem, directa e indirectamente, o fogo assassino são mais assassinos que o fogo...

 

 


30 junho 2025

 A SURPRESA(?)

 

Escrevo sobre política e estratégia há alguns anos, textos, artigos, crónicas, editoriais, ensaios até. Este texto será muito provavelmente o mais difícil que me atrevo a publicar. Que seja entendido como desabafo, possivelmente um lamento, na surpresa com interrogação que o leva da distância da pena à lonjura de uma reflexão. Que pretende talvez atingir algumas consciências preocupadas, obviamente insubmissas, perturbadas com o que se passa à nossa volta e sempre com aquela vontade de intervir, enquanto cidadãos que cultivando uma melancolia consciente e assumida (a visão  de Walter Benjamin) e que sabem que ela poderá ser capaz de projectar a tensão entre o luto e a acção revolucionária.  

 

É neste contexto que vos falo sobre a candidatura de António Filipe, ontem anunciada. O Cidadão António Filipe Gaião Rodrigues, é um jurista, professor universitário e político português, com uma longa trajectória parlamentar e de compromisso com os valores do 25 de Abril. É Doutor em Direito Constitucional e Mestre em Ciência Política, Cidadania e Governação. É um Membro destacado do Partido Comunista Português (PCP). Iniciou a sua carreira política na Juventude Comunista Portuguesa (JCP), deputado à Assembleia da República, na Coligação Democrática Unitária (CDU), de 1989 a 2022 e novamente entre 2024 e 2025, representando os círculos eleitorais de Lisboa (1987-2005) e Santarém (2009-2022). Foi Vice-Presidente da Assembleia da República em cinco legislaturas (2005-2009, 2011-2015, 2019-2022). É, desde 1990, Membro da Direcção do Grupo Parlamentar do PCP. É, na perspectiva de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP, um cidadão com “seriedade, capacidade de diálogo e prestígio”, a que acrescento um respeito imenso que lhe reconhecem inúmeros políticos da Esquerda e também de alguns sectores da Direita tradicional.

 

Devo confessar que a apresentação do António Filipe me tira um peso enorme de consciência. Afinal, tenho um candidato em que posso votar, na pessoa e no Cidadão que admiro e respeito e que é um exemplo de político com dignidade.

Só que tal não me é suficiente. Vejamos, a candidatura, embora sendo apresentada como uma resposta à necessidade de um representante da esquerda que defenda os anseios dos “trabalhadores, democratas e jovens”, num contexto de ascensão da extrema-direita, expressões que anotei das diversas notícias a propósito. Todavia, anoto também que o PCP rejeita a possibilidade de retirar a candidatura para apoiar um candidato único da esquerda, enfatizando que a decisão cabe ao povo. E, é aqui que começa a minha preocupação. Na verdade, a candidatura do Cidadão respeitável, não é a candidatura do Cidadão, mas sim a candidatura do PCP. Nada tendo a objectar e tenho que objectar tudo, perdoada me seja a utilização do truque de linguagem, que a nossa língua nos permite. Navegando em águas revoltas, pretensamente dominadas (ao que consta) pela figura preserva que conhecemos e por mais dois ou três representantes da burguesia dominante, impunha-se quiçá um grau de pensamento, análise e decisão superiores. Daí, a hipótese de poder convergir numa personalidade com uma postura diferenciada, longe da pose institucional e com uma atitude e um comportamento de ruptura, capazes de mobilizar os descontentes, injuriados e fragilizados (os proletários) da sociedade de casino em que se tornou o capitalismo predador. A estatura de uma figura agregadora da insatisfação, não reside apenas na aparência, ou pendor panfletário, mas, acima de tudo, num “comum” (termo no qual reside provavelmente a recusa do institucional) que tomasse como sua a iniciativa de levantar do chão os outros “comuns”, dispersos ou organizados, levando-os (elevando-os?) à categoria de cidadãos activos e participantes da grande tarefa de construir a sociedade sem amos, necessária e urgente.

 

A natural questão que se coloca, perante este tipo de questões: mas então o António Filipe não poderá, pela elevação que possui da nobre arte da política e da cidadania, ser o tal personagem? Não querendo fornecer uma resposta definitiva (não existe aliás esse tipo de resposta), poderei quando muito sustentar, sim e não, ao mesmo tempo. E mesmo sem (querer) entrar na dialéctica dos opostos, não posso deixar de dizer que, muito provavelmente a resposta “correcta” poderá ser encontrada na tensão entre os opostos, que se integram numa perspectiva mais ampla. Ensaiemos então o eventual paradoxo, como ferramenta para explorar (pelo menos) o tempo e a realidade. Sim, uma vez que parece reunir algumas das características atrás enunciadas. Não, porque se trata de uma candidatura que se encerra em si mesma e não parece ser capaz de dar o salto “comum”, essencial e necessário.

A não linearidade do tempo, mesmo no espaço que conhecemos, poderá reservar-nos alguma SURPRESA?


25 junho 2025

BALÕES



O céu cheio de balões, numa noite de festa popular. O balão etéreo, festivo e cheio de cores, sobe balão sobe, nem sabes onde irás parar, mas enfim. É (será mesmo?) o paradigma da esperança, de todas as esperanças, a ascensão social, sempre querida e estimada, dos discursos institucionais, contrastando com a “subida para baixo”, atentatória da física tradicional e das leis da terra que temos, sempre com os amos à espreita para sugar mais e mais. Mas assim é, a esperança nunca morre, dizem, mesmo que já definhe no leito das desesperanças, morte assistida, sem direito a retorno, mesmo para quem creia em tal desiderato. O balão é a alegria do momento, “tentação a experimentar”, como diria o Variações, se ainda variasse por aí, na sua postura simples, provocatória e rica de conteúdo.  O balão é uma forma de estar, um princípio e um fim ao mesmo tempo, que “venho do fundo do tempo, não tenho tempo a perder” e “a vida é água a correr”, como nos ensinou o grande Poeta Gedeão, para quem a pedra era filosofal. O balão é redondo, como o vocábulo do Zeca, a quem fica cometida a tarefa dura de pensar e resistir.  O balão que sobe no céu, com palmas cá de baixo, não resiste a proclamar a justiça de ser redondo, forma que se sabe da nossa esfericidade que mais ninguém (senão ele) viria a equacionar, não fosse a cantiga a tal arma de quem trabalha, como proclamou o Zé Mário.

Quando nos colocamos na teoria balonística de quem sobe e não sabe se (e quando) desce, adiantamos, desde já, uma hipótese deveras “colaboracionista”, que entronca na sua liberdade, condicionada a tudo que lhe está subjacente. Mães e Pais endividados vêm a subida do balão, até que um carro surge no alto da colina e desce destrambelhado, atropelando o trânsito na contramão da vida, que tão bem foi tratada pelo Chico, provavelmente no maior dos hinos à libertação, “tijolo com tijolo num desenho mágico”, a construir a sua fortaleza, uma casa que não possui e que deveria ser o tão propalado refúgio, o seu “terreno” e “conforto”. Subir a construção já era, hoje apenas a cantiga faz jus à “colaboração” com a vida que nos sujeitaram a levar. Por mais que a tristeza doa, por mais que passem as horas a fio dentro de si, o certo mesmo é que o balão vai subir e não vai deixar mais que um registo inábil de quem não possuí mais do que a si mesmo e para quem o balão é apenas uma trégua, o ar que respiram pode estar tão poluído como no Alentejo da nova paisagem contemplativa de painéis solares.

Então, o balão desce (quando desce) e conta-nos como foi possível uma subida e uma queda rápidas, como se o lapso de tempo se esvaísse em segundos, tal a voragem implacável da subida vertiginosa e da descida iminente. A luta pela vida é o balão que sobe e desce, numa interminável estória de sucessos e insucessos, uma volatilidade que não é senão um reflexo de uma vida de altos e baixos, onde parece que só lhe conhecemos os segundos. 

O balão rebenta, ao subir, esta talvez a lição mais sábia da filosofia dos balões. Foi, assim nos contou o Fausto, “...um sonho lindo, quase acabado / lembra-me um céu aberto, outro fechado”. O céu da minha infância tinha mais cores e mais balões. Hoje, balões há muitos, como os chapéus, a sina terrível é que parece que estamos cá apenas para os apanhar, antes que o céu nos caia em cima da cabeça. Um dos balões que rebenta contém um programa imenso de reversões que vão desde a perseguição a pessoas, a restrições à Liberdade, passando pela menorização da Cultura e da Arte. Coisas de fascistas, que querem rebentar todos os balões, sinónimos de utopias que renegam e abjuram, porque apenas conhecem o medo como arma para calar e subjugar.

Pois que os balões lhes rebentem nas trombas. Bem o merecem.

 


17 junho 2025

 A “BOA FÉ” 

 

Enquanto desenham o habitual circo na arena da propaganda, os partidos políticos institucionais preparam a cena costumeira da aprovação do OE 2026. A comunicação dita “social” apressa a posicionar-se cada vez mais à Direita, em exercícios “sustentáveis” que, na maior parte das vezes, roçam o ridículo, de tão gastas que estão as palavras, de tão balofos que são os argumentos, quando existem, uma vez que, na maior parte das vezes, a comunicação é tão pobre que até assusta. As inevitabilidades ganham de novo terreno, em desfavor da retórica política, quase banida, quase morta, assustadoramente arredada do cenário político, repleto de fantasias, mentiras e vídeos idiotas. Um jornal (Público, 14 Junho) diz-nos que o “Governo trava a fundo na imigração, aperta no RSI e muda leis laborais”, só isto bastando para dar o tom e marcar a dita agenda. Continuando, transmite-nos a ideia de que o Programa do Governo é construído para “transformar Portugal” e com “boa-fé” para “negociar com todos”, fechando a tal ideia com a nota seguinte: “...temas quentes como o controlo da imigração e dos apoios sociais apontam na direcção da direita”.
 
Os dez eixos do Programa servem para enquadrar algumas medidas que até agora nenhum governo em Portugal se atreveu a tocar, começando pelo livre direito à greve, aqui chamado “equilíbrio de interesses sociais na legislação da greve” e acabando no malfadado “reforço estratégico de investimento em defesa”, com a intenção do gastar 2% do PIB em investimento na “Defesa Nacional” já em 2025, antecipando a meta de 2029, com 20% do investimento destinado a bens, infraestruturas e equipamentos, em linha com os compromissos da NATO. De acordo com o direitismo institucional, este Governo irá “apoiar activamente o alargamento da União Europeia, nomeadamente à Ucrânia, Moldávia e países dos Balcãs Ocidentais, reforçar a afirmação de Portugal no plano global através do reforço do papel e das capacidades da CPLP e da comunidade ibero-americana e apostar na eleição de Portugal como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, uma mixórdia de temáticas subordinadas basicamente ao alinhamento incondicional com a política da propaganda falaciosa de um Ocidente, baseada na submissão, na falsidade e na mentira, uma cegueira completa, as trevas de uma civilização decadente, contudo endireitada pelos superiores interesses do Capital e pela pauperização crescente dos trabalhadores. Aliás, a medida, classificada de “política de rendimentos”, que diz pretender valorizar “o trabalho e a poupança, o mérito e a Justiça Social”, induz a maior falácia de um putativo aumento de salários, com a descida da “carga fiscal sobre os rendimentos, em especial para a classe média”, bem como a fantástica diminuição do IRC que diz ser para “Criar riqueza, acelerar a economia e aumentar o valor acrescentado”, na mais fantasiosa interpretação do funcionamento da economia, que significa a negação do princípio básico de que são os trabalhadores (e não as empresas) que criam a riqueza.
A “complementaridade” na Saúde irá ser a medida que na prática vai liquidar o SNS. A “reforma” do Estado para a “guerra à burocracia” é apenas a face de um Estado à mercê dos interesses capitalistas e a “digitalização da Administração Pública” é mais um slogan para encobrir a vigilância e o controle dos cidadãos.
Mas, um dos aspectos mais bizarros poderá ser mesmo a dita imigração “regulada e humanista”. Na apresentação na AR, o PM foi ao ponto de dizer o que realmente pensa: controlar o imigrante, que deverá respeitar os valores e os costumes dos portugueses, uma afirmação neo-colonial e ideologicamente ligada ao racismo e a todos os fascismos. Só faltou dizer que, para além dos “valores” e “costumes”, os imigrantes teriam que assumir também as mesmas formas de vestir e de comer. 
Claro está, nem uma palavra ao genocídio em curso, que não é (imperioso sublinhar!) nenhum conflito, mas sim uma ocupação brutal da expansão sionista, patrocinada pelo império norte-americano e pela dita “união europeia”. A hipocrisia neste campo é igual ao apoio ao extermínio. 
 
E depois de tudo isto, do exacerbar dos “valores” das direitas extremas, plasmadas no Programa, declarada e assumidamente ideológico (que bem encaixa aqui a classificação das direitas a tudo o que não concorda), o Partido Socialista, pela voz do seu novo “chefe” vem estender o tapete à Direita, dizendo, em primeiro lugar, “estamos convosco nas questões da justiça, da segurança interna e da defesa”. A sua crítica pífia à inclusão de propostas dos outros partidos no Programa (“isto é plágio”) e a afirmação de que o PS não será "o suporte do Governo" no parlamento, mas sim "uma bancada da oposição responsável, firme, construtiva e alternativa", contrasta com a “disponibilidade para convergências” e apenas representa o triste panorama de um partido que se diz “socialista”, quando é hoje a maior excrescência “democrática” da subordinação total  da social-democracia dos interesses neoliberais, da burocracia inapta e incapaz, da subordinação e submissão. Nem disfarça ser uma bengala da Direita. Independentemente do elevado respeito aos seus militantes de base, o PS é hoje (como sempre foi e muito poucos o admitiram..) a traição ao movimento operário, aos trabalhadores. O Partido que, pela incapacidade absoluta em responder firmemente aos anseios dos trabalhadores, foi o principal responsável pelo ascenso do fascismo. Foi antes,  o coveiro desses anseios, estando hoje travestido, para segurar alguns postos que detém na burocracia do Estado e nalgumas autarquias, onde desempenha muito bem o papel servil dos interesses do dinheiro e do poder burguês. A “boa fé” do Partido Socialista é hoje igual à da Direita, apenas diferindo na forma matreira como é utilizada.
 
A rejeição ao Governo e ao seu programa poderia até ser um momento interessante. A capacidade de rejeitar deverá entretanto assumir outras formas bem mais “interessantes”. Uma vez que o poder burguês continua a sua marcha para liquidar alguns pequenos vestígios da Revolução, o ataque só terminará quando não restar nenhum. A organização dos trabalhadores deverá ser equacionada urgentemente de modo que o poder que representa fique bem ilustrado nas lutas pelos seus direitos fundamentais. A resposta aos ataques à lei da greve deverá ter uma resposta firme. A ocupação dos espaços da Cidade deverá constituir-se como a força alternativa que se impõe. Nada é inevitável, a resistência é necessária, mas não suficiente.
 
A “boa fé” da Direita é uma espécie de caridade, intolerável e inadmissível. Deverá ter um contraponto imediato. Bom e despido de qualquer fé.
 

20 maio 2025

A LÓGICA DA LÓGICA (com ou sem batata)

 


Ouço na rádio a opinião de quem tinha 15 anos no 25 de Abril de 1974. Trabalhador, diz ter começado nesse ano a trabalhar e a felicidade que teve à altura. Mas o mundo evoluiu, diz o opinador e, como se está a ver o mundo virou à direita e nós temos que evoluir também, por isso devemos deixar que os outros, agora para ele a maioria, governem, porque há que deixar os outros opinar pela razão de serem mais que nós. Entendo que fale em número de opiniões. Isto a propósito da questão colocada, aliás a única questão que hoje se coloca, sobre quem e como deve o País ser governado, para haver estabilidade. Nada mais se põe em causa, apenas e só, isto.

 

Coloca-se aqui uma outra questão, pelo menos uma. Será que tem alguma lógica esta lógica?

Do lado do Partido Socialista parece hoje vir uma luz que aponta naquela direcção. O putativo candidato Carneiro e o sempre presente Santos Silva apressam-se a dizer que o Partido deve viabilizar a solução de governo AD, mesmo sem saber qual é o Programa, o Orçamento e outras coisas, que obviamente não têm qualquer espécie de interesse. Para eles e sua douta opinião. Mas, o que é certo é que este “pequeno” (mas significativo) contributo destes dois destacados “socialistas” vem contribuir para a lógica acima mencionada. Sim, pois, é inevitável e confere com o dito popular, “se não os podes vencer, junta-te a eles”. Nada de filosofia política, nenhuma retórica seria capaz de aspirar a tão elevado grau de cátedra, como esta simplicidade popular, a designada “filosofia de táxi”. Também lhe poderíamos chamar de vão de escada, uma vez que o degrau acima não é acessível a qualquer um. Também está muito bem que a estabilidade deles seja o mais importante, afinal foram eles que ganharam. A nossa estabilidade não é para aqui chamada, tivemos a oportunidade que o sistema nos deu para ir depositar o voto em urna, o resto não interessa, nada a acrescentar. A lógica daqueles que ditam a lógica tem toda a lógica, votamos e acabou-se a conversa. Deixem o Luís trabalhar, reedição modernaça do salazarismo, cavaquista ou não. 

 

O “pobre” opinador do fórum espelha o País que foi paulatinamente “transformado”, desde 25 de Novembro de 1975, por Mário Soares e por toda a Direita, antes bem escondida, hoje de mãos dados com a realidade de um presente de sombras, de incultura, de permissão, de submissão, de cancelamento, de medo. De alguma (se calhar, muita) estupidez, uma espécie de auto-negação, um limbo onde cabe tudo menos a razão. E o pensamento crítico, também (aliás, desculpa, de que é que falas?) Quando o outro dizia, em plena troika, “ai, aguenta, aguenta...”, tinha razão. Sabia do que falava, sabia bem o que vinha a seguir e que veio mesmo. O perigo que nos mostram pode estar desfocado. Mas quem quer ver? Quem quer arriscar? Quando o ogre da azia diz que acabou com o Partido de Cunhal, está bem ancorado, diz apenas o que a grande maioria de “sociais-democratas de pacote” não pode dizer, mas pensa exactamente igual. Para estes (e os demais) “democratas” foi mesmo o fim da Revolução. Já andavam a preparar a ofensiva há muito. Agora podem fazer o que querem, em termos institucionais. Seja com a ajuda do bando de meliantes que ocupa o Parlamento, seja com o beneplácito dos intrépidos “socialistas” que se perfilam para o beija-mão.

 

Possivelmente, uma excelente oportunidade para “acordar” e dar o salto. Dizer que o País não é só o Parlamento, não é apenas eleições e mais eleições, parece ser gritar no vazio, como fez a Liza Minnelli, no cinema. Deixar de sonhar (é o termo) com “coligações e arranjos” institucionais e ocupar ruas, escolas, fábricas, repartições públicas e outros sítios. Teatros e cinemas, jornais e revistas, rádios e televisões e departamentos das universidades. Ocupar tudo o que for ocupável, com ou sem acordo ortográfico. Com ou sem vergonha. Com ou sem medo. 

Deixá-los sozinhos a discutir governos e acordos. 

Subverter é preciso, morrer não é preciso.

Disse.


19 maio 2025

A ALIANÇA DOMINANTE

A partir de agora, uma aliança domina o espectro político português. A aliança da submissão e do medo é a mesma aliança que foi sendo construída por políticas erradas e contra os trabalhadores, de uma social-democracia decadente e incompetente. E, acima de tudo, enganosa e tendencialmente disposta a colaborar com a Direita, nas suas várias fachadas. É dela a responsabilidade primeira pela situação de desalento e desesperança, que atirou grande parte dos cidadãos para os braços da extrema-direita, fenómeno comum ao que se vai passando nesta Europa definitivamente enterrada no seu passado e incapaz de compreender os avanços civilizacionais, que sempre acabou por rejeitar. A aliança nada tem de democrática, sendo antes uma aliança de interesses contra os trabalhadores. Todavia, sempre no caminho do suicídio assistido, o PS, na qualidade de principal intérprete do neoliberalismo “moderno”, deu-lhe uma vez mais a mão, “aprovando” governo, orçamento e presidência da AR. Suicídio que ontem se viria a confirmar com a perda de 20 lugares no Parlamento. 

A aparente simplicidade da análise contrasta logo com a complexidade inerente aos sistemas políticos. O filósofo italiano Mario Perniola e os franceses Guy Debord e Emmanuel Todd, deram importantes contributos para a compreensão da evolução dos fenómenos sociais, da passagem do século XX para o século actual. Se nos centramos em Perniola e na sua “Sensologia”, poderemos encontrar algumas explicações sobre uma transformação radical dos modos de sentir. E, concomitantemente, a ascensão de um novo tipo de Poder, com base no neo-fanatismo, neo-ceticismo, fundamentalismo e niilismo, como manifestações tendentes a reduzir a acção ao imediatismo vulgar e insensato. Quando lemos Debord, compreendemos o poder da sociedade do espectáculo. Ao estudar (e vale mesmo a pena fazê-lo) Todd, percebemos as nuances do declínio do ocidente e as análises do desastre do neoliberalismo.

 

O reforço da Direita e o crescimento do Chega, colocaram a esquerda institucional, representada pelo PS, Livre e BE numa posição fragilizada. Para os trabalhadores, os resultados sugerem um cenário de estagnação ou deterioração das condições laborais e sociais, enquanto a esquerda enfrenta desafios estruturais para se reposicionar como alternativa viável. Na verdade, a actuação da esquerda institucional, com as suas políticas keynesianas, constitui um recuo significativo de representação e uma perda de capacidade de influenciação notável, em termos de retórica parlamentar.

 

Mas o que conta, acima de tudo, a partir de hoje, é a constatação de uma situação de fragilidade cidadã. O custo de vida aumenta (e ...“o povo não aguenta”), os preços sobem e as rendas de casa também, a habitação é sempre preterida, o Serviço Nacional de Saúde degrada-se e não faltará muito para ser entregue aos privados (quem já detêm uma significativa fatia), a Escola Pública não tem investimento suficiente, bem como o Ensino Superior, onde professores e investigadores são desprezados e humilhados. Às reivindicações e exigências dos trabalhadores por um salário digno e um emprego estável, a Direita e o PS afirmam que é necessário um “crescimento da economia” para depois se falar no resto. A degradação dos serviços e dos espaços públicos é uma evidência e a tão querida revisão da Constituição, propósito assumido ou não-assumido de toda a Direita, tem agora privilégio de prioridade absoluta, como se ouviu ontem nas televisões. 

 

Vem hoje a propósito (vem sempre...) a ilusão que foi e as consequências que teve a dita "geringonça", que tanta esperança provocou em toda a Esquerda. Só que a Esquerda nunca esteve no Poder e apenas caucionou a política errática do PS, não conseguindo sequer a reversão mais que necessária das leis laborais da troika, com que o PS concorda, nem a passagem para controle público da energia, da água e dos transportes. Para além do mais, o PS não é um partido que defenda os trabalhadores, antes pelo contrário, pese embora a linguagem e um discurso enganador e hipócrita.  Apesar da devida consideração como partido de Esquerda, pela base que tem, o PS o primeiro responsável pela situação criada no País, de completa traição aos trabalhadores e às suas organizações de classe, um partido de interesses e de completa submissão ao capitalismo neoliberal. Vê-se o que fez e como acabou a sua maioria absoluta. 

Existe um erro sistemático de análise de toda a Esquerda institucional, sem excepção. O Livre, um apêndice do PS, com fantasias armamentistas e com uma política europeia completamente alinhada com os desvarios da Comissão Europeia. O BE com um alinhamento cúmplice ao governo nazi ucraniano, comum a toda a Direita nacional e europeia e com uma posição cada vez mais sectária, patente nas palavras e nos actos de cancelamento de quem se atreve a discordar. Apenas a CDU procurou fazer um "esforço de adaptação", conseguindo fazer passar um discurso adequado de recusa firme de compromisso e até de uma certa coragem, por ter denunciado a lavagem ao cérebro sobre a Ucrânia, sobre a dita "união europeia" e sobre a política desastrosa e cobarde desta Europa decadente. 

 

Todavia, não bastam pequenos “desvios”, ou pequenos avanços para que a luta anticapitalista dos trabalhadores tenha significado prático, na sua condição de explorados. Torna-se cada vez mais necessário a organização e um sentido de verdadeira luta de classe. A Esquerda (que designo) institucional apresenta pouco estímulo para a luta anticapitalista, anticolonial e antifascista que é necessária e urgente. Recorda-se, por exemplo, esta realidade assustadora: o Alentejo da Reforma Agrária é hoje o Alentejo do trabalho escravo e um cemitério de painéis solares. Uma outra realidade indesmentível é a que resulta da constatação evidente: a "democracia" que temos é a democracia burguesa da dominação e da subordinação, fundamentada na propaganda e na submissão. As eleições são devidamente “programadas” e “desenhadas” pelas máquinas de propaganda do centrão partidário, hoje com a exaltação de uma extrema-direita que eles toleraram, aceitaram e institucionalizaram. Por uma poderosa e eficiente máquina demolidora de sondagens, que “ajudam” a formar opinião, pela “estabilidade”, pela “governabilidade” e pelo “interesse do país”. E por um exército de comentadores, na sua imensa maioria, tendenciosos, ignorantes e acéfalos. Roubando a ideia ao insuspeitoAdelino Maltês, é a “república dos comentadores”, de que ele é aliás um bom exemplo.  

 

Não é de esperar por uniões sem sentido à Esquerda. União sim, mas na base, nos trabalhadores, nas lutas conjuntas, na ocupação das ruas, das casas, das empresas. Nas lutas pela habitação. Na luta pela Escola Pública.. Na luta contra o Estado terrorista de Israel. Nas lutas contra a guerra e pelo desarmamento. Na luta contra a NATO, uma organização assassina e terrorista, responsável por todos os conflitos em todo o mundo. Muita luta a travar e tal só se consegue numa perspectiva de classe: rejeitar o poder do Capital e da classe possidente. Criar e amplificar a organização dos trabalhadores, dar sentido revolucionário às greves e a todas as formas de luta para que os trabalhadores avancem para o controle da economia, no sentido da sua emancipação.

Não são palavras de retórica, antes um possível apoio à acção, já que resistir é necessário, mas não é suficiente.



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